Borefts 2018
No início desse ano, recebi um telefonema inesperado. Atendi e ouvi do outro lado alguém falando inglês com um sotaque meio engraçado. Era Menno Oliver, o fundador e mestre-cervejeiro da De Molen, uma das mais prestigiadas cervejarias da Europa.
- Oi Beto aqui é o Menno, como vai ??? Sabe... em setembro faremos aqui na fábrica o nosso festival anual. Eu sempre gosto de trazer cervejarias que eu admiro para participar do evento. O que você acha de trazer algumas de suas suculentas Juicy IPAs para servir por aqui?
O convite irrecusável foi prontamente aceito.
Uma das coisas mais legais de se trabalhar com cerveja artesanal está nas relações e amizades que vão se construindo graças a esse líquido mágico. Em novembro de 2017, tivemos o prazer de receber o Menno e o Tjomme da Kaapse Brouwers aqui na TRILHA para produzir uma cerveja colaborativa a seis mãos. Eles vieram para participar do festival Slow Brew em São Paulo e através da querida Kátia fizeram a ponte com algumas cervejarias para produzir receitas na cidade. Dessa experiência nasceu além de uma potente Russian Imperial Stout (batizada propriamente de Essediafoilouco!), uma boa amizade.
#essediafoilouco! 1
#essediafoilouco! 2
#essediafoilouco! 3
#essediafoilouco! 4
Foram seis meses de planejamento para fazer a coisa acontecer. Além de produzir ua receita colaborativa especial para o festival (a parte mais fácil), havia o desafio de enviar mais outros rótulos para a Holanda. Parece coisa simples, mas não é. Foram várias e várias semanas aprendendo sobre como funciona exportar no Brasil; Radar, procurações, logística marítima e aérea, leis de exportação, impostos, invoices, packing lists, pallets, embalagem para exportação, Incoterms, seguros, autorização do mapa, certificação disso, daquilo e daquele outro negócio, despachante, nota fiscal, preço em real que converte pra dólar que recebe em euro....aahhhhh! Depois de muito apanhar para aprender tudo, acabou dando certo. Dia 06 de setembro embarcamos quatro pallets repletos de cervejas em um vôo da KLM. No lote, além das nossas cervejas foram junto as cervejas dos amigos da Urbana e da Dogma que iriam participar também do festival.
Equipe Trilha-Urbana de embalagem para a exportação.
As cervejas chegaram lá perfeitas. Nós viajamos alguns dias depois e também chegamos sãos e salvos!
O Borefts Beer Festival, que esse ano estava em sua 10ª edição, é o festival anual que a De Molen promove dentro da sua fábrica em Bodegraven, Holanda. São 2 dias de festival, com cerca de 5.000 visitantes por dia que estão lá para provar as delícias de 25 cervejarias de diferentes partes do mundo como Rússia, Inglaterra, Hungria, Espanha, Estônia, Islândia entre outros.
Borefts 2018.
O clima do festival é incrível. Primeiro porque não acontece em um pavilhão de eventos qualquer, mas sim dentro da fábrica da De Molen, uma cervejaria mundialmente reconhecida por sua qualidade. A decoração do festival são os mais de 800 barris de madeira cheios de cervejas barrel aged em produção, que servem de pano de fundo para os estandes das cervejarias, que são simples tendas com chopeiras, o taplist e uma bandeira da cervejaria.
Barracas & Barris - TRILHA.
Barracas & Barris - URBANA.
Barracas & Barris - DOGMA.
Ali o que conta é a cerveja. Ali tudo é artesanal de verdade.
Por falar em artesanal, essa barraca de queijos ….
Outra coisa muito legal são os visitantes: são verdadeiros apaixonados por cerveja vindos de todos os cantos do mundo (literalmente), extremamente exigentes com qualidade e ávidos por degustar coisas novas e se divertir.
O Brasil está na moda.
O Brasil está na moda 2.
Aliás foi incrível estar à prova para um público que não sabia absolutamente nada sobre nós. No início do festival os gringos se aproximavam tímidos e curiosos. Vinham aos poucos perguntando sobre o que era a tal cachaça em uma das RIS, sobre a origem do café de outra, sobre a manga que estava em uma das sours e sobre como é fazer cerveja em um lugar como o Brasil. Quem vinha, logo voltava para provar a próxima. O tempo foi passando e uma enorme fila se formando na nossa frente. Os gringos ficavam cada vez mais surpresos. Nosso lineup continha duas fruit sours, três IPAs (Destaque para Melonrise), nossa Bock e três RIS. Quem arrebatou mais corações foi a versão da Gorilla com café e baunilha; uma das mais prestigiadas e elogiadas cervejas do festival.
Ficamos impressionados com o apetite por stouts do pessoal e mais ainda pela resistência física. Muita gente simplesmente voltava e pedia mais uma dose de Gorilla.
De tanto ver um cara voltando, resolvi perguntar quantas Gorillas ele já tinha tomado. Com um sorriso no rosto, ele respondeu: 6!
Apaixonados.
Os 120 litros de Gorilla que viajaram até lá acabaram ainda no início do segundo dia do evento. Um motivo de grande orgulho para nós!
Uma das partes mais legais do evento é o contato com as outras cervejarias. Na grande maioria, eram cervejarias pequenas, locais com ótimas cervejas. Trocamos muita idéia franca e honesta com algumas cervejarias, o que fez nascer até algumas afinidades com algumas delas, que passaram por desafios semelhantes aos nossos. No final, uma experiência incrível para nos situar no mundo da cerveja, conhecer pessoas excepcionais e generosas e pensar no futuro.
Foram dois dias intensos de muita descoberta!
Descobrimos que os gringos não sabem o que e é cachaça, que o mundo é menor do que pensávamos e que o céu é o limite para TRILHA.
Em pouco tempo de existência e com uma distribuição (ainda) super limitada, estávamos exportando a nossa cerveja para a Holanda e batendo papo com muitas cervejarias sobre os desafios de se produzir uma cerveja cada vez melhor.
Fico por aqui, ansioso por um novo telefonema...
Beto